PROFISSÃO DOCENTE


Este texto é uma proposta de debate construtivo e reflexivo sobre a profissão docente. Portanto, é a partir dessa perspectiva que gostaria de comentar alguns aspectos da docência: a visão da docência como missão; a influência do salário e das condições de trabalho na relação professor-aluno; a relação família-escola. Ao final, coloco também a importância da sociedade para a formação do cidadão.

Sobre a docência como missão, gostaria de lembrar as pesquisas que apontam que é justamente esse ideário que produz e reproduz a concepção de uma mulher que educa por vocação mais do que por escolha e qualificação profissional. Dessa forma, é perpetuado o discurso que resulta na falta de valorização docente, o que interfere nas relações de trabalho e nos planos de carreira docente [1]. Pensar a docência como vocação ou missão vai, portanto, na contramão da valorização do exercício docente.

Infelizmente, os alunos sofrem essas consequências do descaso com a Educação porque professores mal remunerados trabalham muito mais do que dão conta para conseguir receber o valor necessário para sua sobrevivência. Com um piso salarial nacional de R$1.567,00 [2] para a carga horária de 40 horas semanais, os professores não recebem nem o valor de R$2.892,47 calculado pelo DIEESE [3] para o salário mínimo nominal e necessário em abril de 2013 que é "a remuneração mínima devida a todo trabalhador adulto, sem distinção de sexo, por dia normal de serviço e capaz de satisfazer, em determinada época, na região do país, as suas necessidades normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte." [4] Nesse contexto, como não ter sua atuação docente afetada por uma remuneração abaixo do valor mínimo necessário para seu sustento? O que dizer, ainda, dessa baixa remuneração conjugada, por exemplo, à violência nas escolas e à precariedade das redes públicas de ensino? Ou ainda, à cobrança excessiva a que são submetidos aqueles que trabalham nas redes privadas de ensino, seja por parte da escola, seja por parte das famílias dos alunos? Dessa forma, muitos problemas na atuação docente são resultado das próprias condições de trabalho às quais professoras e professores estão submetidos.

Sobre a relação família-escola, infelizmente, o que temos visto é o desconhecimento das famílias sobre o trabalho docente. É preciso dizer que professores são profissionais qualificados, que estudam muito para lecionar (além dos conteúdos a serem ministrados, professores estudam Antropologia, Sociologia, Filosofia, Psicologia, Legislação, Administração Escolar, Metodologia Científica, entre outras disciplinas). Além disso, as escolas possuem um projeto pedagógico que norteia a prática docente e as famílias devem acompanhar de perto a educação de seus filhos, inclusive de maneira participativa: "a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho" [5]. Dessa forma, se a educação vem sendo, na sua totalidade, terceirizada para a escola, a família precisa ser convocada para assumir a responsabilidade que lhe compete, em uma parceria com a escola e em respeito aos direitos das crianças e adolescentes (... à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária). [6]

Por último, gostaria de complementar meu texto falando sobre a importância da sociedade na educação: de nada adianta a escola ensinar sobre moral e ética se crianças e adolescentes presenciam no seu dia a dia justamente o contrário do que aprendem na escola. Por exemplo, como cobrar atitudes éticas de crianças e adolescentes em uma sociedade que pune os pobres e faz vista grossa para os crimes cometidos pelos ricos? Em uma sociedade na qual políticos corruptos conseguem pagar excelentes advogados, saindo ilesos da responsabilidade por seus atos? Em uma sociedade racista, homofóbica, machista e que culpa a pobreza pela violência?

Essa é a nossa enorme responsabilidade como educadores (professores, familiares e cidadãos): contribuir para a valorização do profissional docente; envolver as famílias na educação de seus filhos; fazer da sociedade um espaço de convivência coletiva onde os direitos sejam respeitados por todos e os deveres sejam igualmente cumpridos.


REFERÊNCIAS

[1] CHAMON, Magda. Trajetória de Feminização do Magistério e a (Con)formação das Identidades Profissionais. In: VI SEMINÁRIO DA REDE ESTRADO - REGULAÇÃO EDUCACIONAL E TRABALHO DOCENTE, 06 e 07 de novembro de 2006, Rio de Janeiro, RJ. p. 13. Disponível em: <http://www.fae.ufmg.br/estrado/cd_viseminario/trabalhos/eixo_tematico_1/trajetoria_de_feminizacao.pdf>. Acesso em: 22 de maio de 2013. 

[2] Valor do piso salarial nacional dos professores em 2013. Em 2014, o valor do piso salarial nacional foi reajustado para R$1.697,37 (8,32%). Em 2015, o valor do piso salarial é de R$R$ 1.917,78. A jornada de trabalho é de 40 horas semanais. Para saber mais sobre o pagamento de professores, leia essa matéria do Portal Brasil.

[3] DIEESE. Cesta Básica Nacional: metodologia. 1993. Disponível em: <http://www.dieese.org.br/metodologia/metodologiaCestaBasica.pdf> . Acesso em 22 de maio de 2013.

[4] BRASIL. Senado Federal. Decreto-lei n. 399 de 30 de abril de 1938. Aprova o regulamento para execução da lei n. 185, de 14 de janeiro de 1936, que institue as Comissões de Salário Mínimo. Disponível em: <http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=12746>. Acesso em 22 de maio de 2013.

[5] BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> . Acesso em 22 de maio de 2013.

[6] BRASIL. Presidência da República. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em 22 de maio de 2013.

Alessandra Belo: estudante de Pedagogia na UFMG, professora de reforço escolar, autora dos blogs "Foi Plágio" e "Gentileza Belo Horizonte".


Texto redigido em 2013.